O meu desejo transita
entre o sagrado e o carnal
te quero,
horas como um devoto
horas como animal
comovido de emoção
e religiosidade
e profano
visceral
com a boca salivando
de vontade
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Mulher Oceano
Que imensidão é essa que ela traz no olhar?
Que mistérios tantos sua face esconde?
De onde emerge tamanha vastidão?
Encará-la é como olhar o mar
e morrer de medo e de paixão
entre a vontade intensa de mergulhar
e o temor profundo de perder o chão.
Sua dimensão é tanta
que assombra, asssusta, abala
comove, fascina, encanta
Mas quem sou eu para possuir o mar?
Se um dia as suas águas
quiserem me banhar
hei de me lançar com devoção
ao naufrágio
ou à aventura de navegar
Reflexo
Entre a paixão e o sexo
que nexo?
prefiro o amor
porque o amor é mais complexo
O Amor e a Lua
Ando, vivo e até respiro sem ela
durmo sem a presença dela
acordo e convivo com a sua saudade
Meus dias, se não tem sol,
encontro na sua lembrança um facho de luz
Se são quentes
é nas suas memórias que me refresco
Sua ausência, sinto-a o tempo todo
E a todo instante, me acompanha essa presença
Se não física,
Química, orgânica, espiritual e esotérica.
Nunca soube bem o que é o amor
ou que é amar
Mas desconfio que seja algo próximo dessa distância,
que mesmo longa, e longínqua,
Apesar dos dias e das noites,
Apesar dos tempos,
continua a me acompanhar.
O Amor e a Lua II
Amo-a como amo a lua
como um poeta apaixonado
livre, louco, delirante
como amante embriagado
Amo com os olhos vidrados
com as veias pulsantes
com o pelo eriçado
amo com o peito rasgado
amo com o olhar distante
Amo com fome angustiante
e ao mesmo tempo saciado
amo-a inteira e exuberante
também às partes, fases, bocados
nova, cheia, crescente
amo-a mesmo minguante (ou meia)
Amo seu lado escuro
tanto quanto o iluminado
amo-a feito gente
amo feito bicho extasiado
como cão uivando na noite
Amo-a como um astronauta velho
amaldiçoado de saudade
e amo cada dia mais
mesmo que nunca mais
volte a tocar a sua face
Epitáfio
Não havia cruz
nem a luz havia mais
onde houve a vida
onde a flor nascia
nem vestígios, nem sinais.
Do amor, de um dia
só uma placa:
– “Aqui jaz”
Amores
Cantado em versos
declamado em rimas
esculpido em pedras
destruído em ruínas
o amor (e suas faces)
emociona, inspira
enlouquece
assassina
Contrastes
Quero te dizer as mais belas poesias
num ouvido
e as mais loucas perversões
no outro.
Te acaricar delicadamente
com uma das mãos
e te apertar furiosamente
com a outra.
Entre olhares e mordidas
dentadas e lambidas
ser, ao mesmo tempo,
carinho e volúpia,
ternura e tesão
até te deixar tonta.
E fazer da tua confusão
o meu maior deleite
até que,
inteiramente louca,
me beije, quente,
delirando de ardor
me lambuzando a boca
Enquanto implora
Por mais e mais amor…
O Meu Amor
Descobri que o meu amor
Não depende de ninguém.
Entendi que é coisa séria,
Não é coisa que vai e vem.
Nem é algo que eu me livre
Ou que possa viver sem.
Aprendi que eu sempre amo,
Mesmo que não saiba a quem.
Momento
Esse amor assim tão puro,
Forjado no mais duro sofrimento
Por quê eu tanto tento
E não consigo nunca realizar?
Estará errado onde eu procuro?
Ou será a forma que eu invento?
Será que é falta de merecimento?
Ou falta de (mais ainda) tentar?
Será que só para o futuro?
Será que é preciso tempo?
E a razão do meu tormento
É não saber esperar?
UTI
Meu amor respira por aparelhos
suspira, ferido
meu amor espancado, quebrado, moído
meu amor destruído
oscila, abandonado à própria sorte.
Meu amor esmagado
rasgado, sofrido
meu amor destroçado
retalhado de cortes
agoniza
paralisado
entre a vida e a morte…
Amor
Desejo o teu beijo
e os teus olhos,
quando não te vejo
e esse teu sorriso como uma cachoeira…
Que me banha
que me lava
e que me gela
do mais puro frescor.
Se não for isso,
é o quê, então, o amor?
Fixação
Com que direito o teu semblante
Invade o meu instante
e me faz poeta?
Como o teu universo
toca o meu
e me põe a escrever versos?
De quem roubaste a chave da minha alma?
Como ousas surgir assim
e me roubar a calma
e me tirar o sono,
Como?
E como podes
dominar meu pensamento
que quanto mais eu tento
nenos eu consigo me esquivar…?
O Intruso
O amor
às vezes bate na porta
às vezes,
entra sem avisar…
Saudade
Nas noites claras e estreladas
sinto falta de te olhar
porque há o luar
e a lua precisa
ser compartilhada
Nas noites cinzas e nubladas
sinto saudade também
porque nem lua tem
e a vida precisa
ser iluminada
À Uma Menina com Nome de Flor
Quantas vezes já te olhei e admirei
como quem admira um jardim e seus encantos
alguns à mostra, bem visíveis
outros, nem tanto.
E quantos momentos bons já tive
só em te ver passar…
Porque a sua presença torna tudo diferente
como se o mundo ganhasse um brilho novo
uma nova cor
como se enfeitasses, feito uma flor,
os lugares onde estás presente
Nem imaginas o quanto o teu sorriso
feito pétalas de flor se abrindo
torna lindo o Universo…
Tanto,
que a pobreza dos meus versos
não consegue descrever
Se soubesses quantas vezes me encantei
ao cruzar os meus olhos com os teus
e quantos beijos infindáveis
quantas horas de deleite, imaginei…
E ao te ver assim tão longe
sinto falta do que ainda não tive
( e nem sei se um dia terei )
e invejo aqueles que, por sorte,
desfrutam do riso e dos olhos
da menina que eu sonhei
Sem Sentidos
A tua saudade me atordoa…
Meu corpo reclama, o tempo todo
pelo seu.
Minhas mãos tateiam o vento
na busca vã pela tua pele.
Meus olhos, fitam ao redor
incrédulos de não te ver…
Meus ouvidos, garimpam no silêncio
ou entre os barulhos da rua
um sinal que seja
da tua voz.
De olhos fechados
procuro à todo custo
pelo teu cheiro….
E a minha boca,
ante a perplexidade de não te ter,
busca, em meio à minha saliva
algum resquício do teu gosto…
Volta logo…
Para que os meus sentidos
tenham sentido
Anjo I
Eu ontem conheci um anjo
de róseos lábios e olhos claros
e a pele branca como uma nuvem…
Trocamos poucas palavras
mas me tocou o coração
E quando se foi,
tão rápido quanto surgiu,
deixou em mim aquele espanto
e aquela estranha vontade de voar…
Anjo II
Eu, hoje, beijei um Anjo
de róseos lábios…
Que estranho feitiço tinha
aquela boca
que eu nunca mais fui o mesmo…
Que estranho gosto aquele beijo
que me despertou desejos
nem um pouco angelicais
(Mas o que me pôs mais medo
é que não vi suas asas…)
Desperdício
Me incomoda essa magia desperdiçada,
esse amor jogado fora
Pedra bruta rara, na cara
de quem por medo ou desdém,
ignora…
Me incomoda cada hora
Em que não passamos juntos
Cada beijo não dado
Cada vez que vais embora
Me incomoda essa lembrança,
Do que podíamos e não vivemos.
Causa em mim tanto espanto,
Saber que há tanto,
E sermos sempre tão menos …
Me entristece essa ternura
Alma pura de beleza
Se esvaindo pelo ralo
Luz, som, céu, frio e calor
Toda a cor da natureza
Mais ainda esse desejo
Fogo, faca, língua, beijo,
A pele tesa…
Me incomoda essa certeza
De não sermos mais que um sonho
Podermos tanto e sermos, sempre,
tão pouco…